segunda-feira, agosto 04, 2008

Ruído de comunicação

Ela me lançou aquele triste olhar. Disse palavras soltas, dessas que falamos quando escondemos alguma coisa, depois veio com uma conversa que felicidade é uma coisa construída a dois e que acreditava na nossa relação.

Ressaltou que o diálogo é muito importante e que num convívio sem confiança e sinceridade nenhum relacionamento pode durar. Tentei dizer algo, mas ela me abraçou tão forte como da primeira vez em que nos conhecemos.

Senti uma lágrima escorrer entre do seu rosto, ela caiu sobre mim, isso me fez senti muito mal, fiquei tentando imaginar a onde você queria chegar com essa conversa, entender o porque estava agindo assim comigo.

Mas numa mudança de humor digna de TPM, você me acusou de abandono, metralhou a conversa com frases do tipo, “que eu nunca estava lá quando precisava”, “que não me importava com os seus sentimentos”.

Não falei nada, certas horas é melhor evitar maiores conflitos, falando coisas que depois sempre nos arrependemos – foi o meu erro – percebendo a minha mudez, ela veio com toda a fúria para cima de mim, me empurrou contra cama e começou a falar alto, que eu nunca conversava, que eu era fechado demais.

Mas o que me deixou perplexo foi à acusação de que não a procurava mais, que não sentia mais prazer na cama com ela e pior, insinuou que estava agindo desse jeito por que eu tinha arrumado uma outra garota.

Foi à gota d’água, tive que me defender:- ah garota chata!!! Eu sou apenas um ursinho de pelúcia que o mané do seu namorado deu a você de presente, vai descontar essa sua raiva em outra pessoa porra!!!

O dia em que ele acordou sem o pé

Acordou com a velha ressaca,
ainda vestido com a roupa de ontem,
porém teve um susto quando tentou levantar.

Ele acordou sem o pé,
não sabia explicar o que aconteceu,
tinha sumido da perna.

Tentou se levantar assustado,
mas foi inútil seu movimento,
saltou para cama novamente.

Começou a pular em direção da porta,
seus olhos e pulmões,
começaram a falhar inexplicavelmente.

Tentou apoiar-se na parede,
mas sua mão tinha evaporado,
um cotoco ocupava seu espaço.

E a cada segundo um pedaço seu,
começou a desaparecer,
e depois de 173 segundos,
enfeitava o corredor um pé que calçava All Star da noite anterior...

Aeroporto

Ela foi embora hoje, agora há pouco, levou duas malas e alguns sapatos, deixou um coração partido e lágrimas no meu lenço...
Ela tinha me avisado que iria embora, só acreditei quando parou na porta do avião e, com a mão esquerda, fez um sinal de adeus entrou...
Agora eu estou parado em frente a esse vidro, tendo essa pista estúpida, vazia na minha frente, sem forças para me mexer, sentindo falta de ar...
Sento no chão, agora minhas lágrimas enfeitam o lenço, fico com as lembranças do que vivemos, com as flores que morreram na jarra da mesa da sala e as fotos que nunca fiz de você fazendo caretas...
E, em relação à carta, que me entregara, eu, nesse exato instante rasgo em pedaços irregulares sem ler.

Revisado por Guto Correia

Relatos de uma vida passageira

Pessoas ao longe nem percebem a nossa presença, de leve sinto encostar-se no meu corpo no exato instante em que ficamos sozinho. Presencio sua mão bem devagar percorrer meu corpo inteiro, tento beijá-la, só que ela é mais rápida.

Mãos leves e serenas, dessas que eu sempre desejei, sinto seus dedos brincando sobre a minha pele, suas unhas fazem movimentos lentos, com não tivessem a menor vontade de ir ou vir, parece tecer seus desejos mais secretos.

Ah como eu sonhei isso, de alguém me tocando assim, nesse corpo que já foi tocado outrora, mas nunca com tanto carinho e determinação. Escuto a sua voz cantando uma antiga canção, dessas que só canta quando estamos apaixonados.

Percebo que me solta, fico achando que agora vai me segurar de jeito, como a quem agarra uma pessoa na mais louca paixão. Conto os segundos de olhos fechados, tentando adivinhar o momento exato que vou senti você.

Mas você não volta, vejo sua imagem indo embora, e eu, ali parado. O que será que fiz algo de errado...Por que?...Logo agora que eu estava tão feliz, se tivesse falado algo, dito o que sentia. Mas agora é tarde, escuto o som dos seus passos cada vez mais distantes dos meus ouvidos.

É, Realmente,

Essa vida minha de corrimão não traz felicidade.

O porre de ontem

Antes de abrir os olhos e acordar, sinto o sol batendo de leve no meu rosto. Maldita cortina que não esconde o amanhecer... Principalmente para aqueles que não querem levantar. O gosto do destilado me resseca a boca. Ainda sinto o mal estar do porre de ontem... Maldita cereja do Martini, sempre me deixa assim...
O engraçado é que eu não lembro como cheguei em casa. “Mais uma vez, né, cara? Assim não dá!”, diria meu velho. Ou “esqueceu a porta aberta”, diria a coroa. Já moro sozinho há 3 anos. Dono do meu nariz. Grandes festas, bagunças memoráveis...
...Mas ontem...Como eu cheguei em casa?
Estávamos todos no show do Fábio, bebidas em variedade. Joana estava linda, uma pena ter ido embora tão cedo. Ficamos na mesa habitual, à esquerda, perto do balcão. Jeremias, como sempre, nos atendeu com uma alegria que contagiou a galera.
Ai, minha cabeça! Como eu bebi ontem... Acho que exagerei. Dou uma risada safada e puxo o lençol de leve para cobrir o meu rosto do sol quando sinto algo roçar minha perna, uma leve pressão.
Caralho!!! Tem alguém deitado do meu lado. Maldita rodada tripla de tequila... Seria a Karina? Não, ela hoje estava ficando com o Julio. Calma, respira fundo. Sim... Paula! Eu fiquei com ela, mas que até eu me lembre, ela foi embora?!?!
Experimento um pigarro para ver se a pessoa se mexe, não tenho coragem de olhar para o lado. Então, olho para fora da cama e, com a visão turva, olho para o chão procurando peças de roupa feminina. Para minha surpresa, só vejo minhas roupas, o cigarro e garrafa de Malibu pela metade de uma outra festa que rolou aqui.
Minha cabeça não pára de rodar. Não sei se pela ressaca ou por não saber com quem eu dormi. Eu não dirigi, isso eu tenho certeza. Quem veio dirigindo foi a Fernanda, ela mora no prédio ao lado, rolou um clima e ficamos – transamos - e ela acabou dormindo aqui. Tá bom, só que você esqueceu, ô mane, ela não gosta de homem!
Lembro de um vulto me ajudando a sair do carro... Não acredito que eu fui carregado! Será? Acho que eu resmungava algo sobre a castidade das baleias do norte da Groelândia. Essa pessoa obviamente abriu a minha porta e me trouxe aqui. Caramba, quem é???
Olho para o chão mais uma vez tentando focalizar algo, malditos óculos que não estão por perto! Quando percebo que é um pé de sa-sapato, sapato masculino... Não acredito!!! Fui comido ontem!!! Como assim???...Tá certo que cu de bêbado não tem dono...mas aí é sacanagem, logo comigo...!?
- Ô imbecil, esse sapato é do Pedro. Deixou aí outro dia, quando vocês foram à praia encontrar as gaúchas...Putz grila!!! Crio coragem para olhar o lado oposto da cama, vou virando devagar, também não quero acordar a pessoa, qualquer coisa eu dou um pulo da cama e saio correndo - vou pensando - tem que ser mulher, tem que ser mulher...quando eu abro os olhos e a vejo...

ah ufa!!!

...abraço-a...começo a rir de mim...e volto a dormir agarrado com a Glenda, minha boneca inflável...
Revisado por Eliza Vianna

Noites com insônia e Tic Tac

Preciso comprar um relógio digital,
esse maldito tic tac não sai dos meus ouvidos.


Arrancaria as pilhas deixando-o estático,
no entanto sei que ele precisa seguir o seu tempo.

Na rádio não toca nada que me faça esquecer quem sou,
e nos tic’s e tac’s da noite tento dormir.

Mudo de posição e estação,
fecho janelas e ouvidos,
mas o maldito barulho faz eco na minha cabeça.

Agora não adianta fechar os olhos,
os ponteiros do sol já me fazem levantar,
mais um dia que se segue.

A chuva que no tempo eu guardo

Sempre utilizo o guarda-chuva para proteger-me,
seja da chuva, seja da dor, seja do sol, seja do amor,
ao sair girando, saio por ai voando, de tudo e todos,
para bem longe dessa lucidez que me embriaga.

Mas meu guarda-chuva anda furado,
gotas da mais pura tristeza caem sobre o meu rosto,
são como acido, corroem em 3 o meu coração velho,
estúpido esse que gosta de se molhar com chuva nova.


Com Chuva e Magoa


Meu joelho sentimental está sofrendo com essas mudanças de tempo,

nuvens de lágrimas passam ao sudoeste,

mas vou seguindo,

consertando meu telhado,

aguardando novos temporais.

Perigo Correnteza


O perigo da correnteza é quando a gente se deixa levar para o fundo, mar de nossos medos. Já não é perigoso quando acostumamos a ficar debaixo d’água, corpo imóvel, submerso em choro do mar salgado.

A correnteza do perigo é quando você permite que as correntes da vida prendam seus pés, puxando-os para o fundo; e você já não quer mais sair, não sente forças para nadar até a praia.

A onda da vida me deu um “caldo”, e não sei para onde a correnteza do perigo quer me levar.

Preciso sair do perigo que a correnteza me chama,
Preciso de correnteza para sair do perigo,
Perigo é sair do mar e não sobreviver fora da correnteza.

Preciso chegar à superfície e respirar...